Era uma vez um rei que era forte, corajoso e tinha todas as outras qualidades. Ele governava seu país com justiça, amava seu povo e era amado por ele. Por essa razão, não havia crime em seu reinado – até que, um dia, descobriu-se que havia um ladrão solto na terra.
Sabendo que a conduta criminosa se multiplicaria, a menos que tomasse uma posição firme contra ela, o rei decretou que, quando pego, o ladrão receberia vinte chicotadas. Contudo, os roubos continuaram. Ele aumentou o castigo para quarenta chicotadas, na esperança de evitar outros crimes, mas foi em vão. Finalmente, ele anunciou que o criminoso seria castigado com sessenta chicotadas, sabendo que ninguém no país poderia sobreviver às sessenta chicotadas, exceto ele. No final, o ladrão foi pego: era a mãe do rei.
O rei viu-se diante de um dilema. Ele amava sua mãe mais do que qualquer pessoa no mundo, mas a justiça exige que o castigo fosse cumprido. Além disso, se seus súditos vissem que era possível cometer um crime e não ser castigado por ele, a ordem social, no final, estaria completamente destruída. Ao mesmo tempo, ele sabia que, se tivesse de sujeitar sua própria mãe a um castigo que iria matá-la, o amor do povo se converteria em revolta e ódio para com um homem sem compaixão e afeto comum, e ele seria incapaz de governar. Toda a nação se perguntava o que ele iria fazer.
Chegou o dia de aplicar o castigo imposto. O rei montou uma plataforma na praça central da capital, e o açoitador do rei assumiu seu lugar. Então, a mãe idosa do rei, frágil e trêmula, foi apresentada. Ao ver seu filho, o rei, ela desabou a chorar. “Estou… tão arrependida… do que fiz!”, ela lamentou, entre soluços. Então, recompondo-se, a mulher arqueada e de cabelos brancos seguiu em direção ao chicote. As pessoas levaram um susto quando o açoitador levantou seu braço musculoso com o chicote de couro na mão.
Assim que o chicote estava prestes a descer com força sobre as costas expostas da mulher que havia dado a luz ao rei, o rei gritou: “Pare!” O braço ficou suspenso no ar e o chicote veio abaixo sem força. O rei levantou-se de seu assento, tirou seu manto, andou em direção ao chicote, abraçou a mãe e, com seu corpo largo protegendo a mãe e com as costas expostas para o açoitador, ordenou-lhe: “Execute a sentença!”
As sessenta chicotadas foram dadas nas costas do rei.
Fonte:
STERN, Davi H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Vários tradutores. São Paulo: Didática Paulista; Belo Horizonte: Editora Atos, 2008. p. 385.
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